chegamos sempre tarde demais para os Homens e cedo demais para os Deuses.

A memória é a nossa escola de vida. É a única verdadeira defesa. Tudo pode ser traído e abandonado, menos a memória.


Pergunto-me do que será que os meus filhos se lembrarão mais tarde e que nunca esquecerão. Que memórias banais se tornarão as suas memórias mais antigas?

Será de atravessarem a rua de mão dada comigo? Será das manhãs em que os levo à escola? Será de ficarmos na praia até anoitecer enquanto corremos atrás das gaivotas já sonolentas na areia? Será de me pedirem para ficar ao pé deles até que adormeçam?

A memória é a nossa escola de vida. É a única verdadeira defesa. Tudo pode ser traído e abandonado, menos a memória. É mais fiel que qualquer amigo, é mais longa do que a própria vida, é mais verdadeira do que qualquer vontade que temos como certa.

Não posso negar o que vivi, o que cheirei, o que senti. Não posso negar que fui feliz pois fecho os olhos e sinto novamente todos esses instantes. Não posso negar que mesmo nos momentos que foram menos felizes houve uma luz ao fundo que indicava o caminho.

Afinal, o que é a vida senão um conjunto de memórias? Memórias do que podia ter sido e não foi e do que se perdeu depois de ter sido. Memórias do que podia ter sido dito e feito e não o foi a tempo ou do que foi demasiadamente dito e feito. Memórias desses eternos desencontros, desta sensação de que nada existe no seu tempo certo, de chegar sempre tarde ou partir cedo demais.

E, enquanto houver memórias, vou conseguir aceitar a realidade de que não se pode ser sempre feliz. Tudo o resto são circunstâncias.

Alguns destes parágrafos não são da minha autoria. Li-os algures, nuns dos muitos livros que de tanto me encherem a alma me ficaram para sempre na memória. O autor que me perdoe o plágio.