Quando o sentido de humor, talvez a maior das virtudes do ser humano, é elevada a oitavo pecado mortal a civilização humana está condenada ao fracasso.

As emoções são sinal através do qual a vida marca o seu triunfo e o riso, o seu expoente máximo. Um dos nossos maiores sinais de inteligência deveria ser a capacidade de nos rirmos de nós próprios.

Quando era pequena, uma das mensagens da Bíblia que mais segurança me transmitia era a simples frase "Não tenhais medo". Décadas volvidas e passado o choque inicial da idade adulta onde percebi que as chicotadas da vida podem deixar cicatrizes profundas, concluí que o livro das mensagens divinas está repleto de metáforas que apenas nos distraem da inevitável certeza:

Em pleno século XXI, rodeados de tecnologia, onde batem corações artificiais dentro de alguns de nós, quarenta e cinco anos depois de termos dado um pequeno passo para o Homem e um gigante passo para a Humanidade, continuamos a matar pelo pensamento mais medieval de todos e que chega intacto aos dias de hoje: Deus e Religião.

"Não tenhais medo"

Como não ter, se pensarmos no Mundo que estamos a deixar para as gerações futuras das quais fazem parte os nossos próprios filhos? Como fazer alguém compreender uma coisa que nem nós próprios entendemos? Mas afinal, o problema está em Deus ou nos Homens que defendem cegamente uma causa por mais intangível que esta seja?

Um dos nossos maiores desafios na Terra é erguermo-nos acima dos sistemas Morte, Guerra, Religiões, Nações e Fronteiras, não ter medo de assumirmos e defendermos a nossa posição, de dizer a verdade mesmo quando a nossa voz treme. É preferir morrer de pé a viver ajoelhado. É conseguir exprimir, sem medo, a pessoa que somos e o que sentimos, descrever o ridículo mundo em que vivemos e acima de tudo sermos capazes de nos rir de nós próprios como seres imperfeitos que somos.

Acontecimentos como o que aconteceu ontem com Charlie Hebdo apenas nos fazem questionar ainda mais que Deus é este (pertença ele a quem for) que permite que sejam ceifadas vidas humanas em prol do Seu nome e em defesa da Sua honra.

Como ser humano que sou, para quem as gargalhadas são a cola necessária de uma relação eterna, seja ela de Amizade ou de Amor, quero agradecer-te a Ti, Deus, por me teres abençoado com um dom que desconfio que Te falta: a capacidade para te rires de Ti próprio.

O mundo tornou-se demasiado cinzento para nos ser negada a liberdade de pintar a vida a cores, mesmo que no dia seguinte acordemos com as cores todas desbotadas.

A linha que separa a loucura da sanidade é demasiado ténue, ao ponto do que foi ontem dizimado pela força, ser hoje imortalizado pela solidariedade humana.

Numa época em que procuramos vida noutros planetas, pergunto-me quantas vezes não estivemos já na mira de seres realmente inteligentes e avançados. Quem sabe se não estamos vivos apenas por sermos demasiado atrasados e, connosco, nada poderem aprender.


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The Dark Knight (2008) 
Christopher Nolan