Um choro. Um sorriso.
Um homem veio ao mundo. Chorou. Porquê?

Aparecem os entendidos com grandes tratados, falando de fenómenos biológicos. Verdade? Não. Mentira.

O homem chora quando olha pela primeira vez o mundo e se apercebe de uma sociedade manobrada por jogadas de interesses próprios que desde cedo o raptam ao colo materno e o encaixam dentro de estereótipos e mentalidades pré-concebidas como se ele fosse o mero resultado de uma qualquer compra por catálogo. O homem chora, porque entra em guerra quando entra no mundo.

Ele chora ao ver, enquanto pode, um mundo que lhe fora prometido de amor mas que não passa de um obstáculo à vida, onde os próprios Homens se batizarão de reis, grandes, enormes, Todo-Poderosos e onde cedo compreenderá que para sobreviver tem estar sozinho - apesar de o mais provável ser viver sempre rodeado de muita gente - onde se desmoronam impérios para se erguerem tiranias e onde um gosto será quase sempre feito de mil desgostos.

Desde cedo lhe será exigida a perfeição, fruto dos métodos comparativos e competitivos com os seus semelhantes. Mas raros serão os que virão a ter a capacidade de gritar "Bingo". Ou até mesmo "Linha".

Apesar de tudo, recusar-se-á a desanimar porque ser-lhe-á ensinado desde sempre e lhe será prometido que lutar é muito mais giro do que vencer e que partir é muito mais divertido do que chegar. Ser-lhe-á ainda explicado que, quando se chega ou se vence, nos toma um grande vazio que para ser preenchido nos obrigará a entrar novamente em viagem, a criar novas metas e novos objectivos. "Se te esforçares consegues" será a palavra de ordem e a energia que o manterá sempre e para sempre na louca correria por algo melhor qual hamster preso na sua roda frenética de exercício.

Porém, no preciso momento em que tomar consciência que sempre viveu na eterna procura de objectivos e metas efémeras, que nasceu para olhar o mundo à sua volta e não para o compreender, que não quer saber como nasce a alegria mas sim senti-la, ou como nasce o vento que move os moínhos feitos em papel de lustro mas sim colocá-los em movimento... nesse preciso momento, ele ir-se-á perguntar se no final da sua jornada o que restará será apenas o sono ou haverá algo mais que ficará cheio de alguma coisa.

E esse final? Que tem ele realmente para lhe oferecer? A eternidade? O que é isso? Como se vive lá?

Não sei. E tu? E tu? E tu?
Ninguém sabe.
E aqui, termina a vida e começa a sobrevivência.

Tem ponto final mas não acabou. O que acabou foi o tempo, essa maçadora dimensão que marca e destina o Homem. Não acabou, porque não há machado que corte a raíz do pensamento. "Nem acordes, nem pincéis. Nem palavras, nem cinzéis." Quanto mais pontos finais.

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