Hoje acordámos com o aroma a café a inundar a casa. Aquele café de filtro que a minha mãe tão bem fazia fez-me regressar, por momentos, à idade da minha infância.

Pela primeira vez desde sempre estamos de férias em Agosto, um mês que, à partida, está fora do calendário anual do nosso descanso. Uma única semana marcada nesta data a pedido de Simone que sofre do síndrome de Agosto, tão comum aos que nasceram neste mês. Sempre sem os amigos por perto, Simone quis que estivessemos todos juntos e festejar connosco os seus 12 anos. Fair enough.

Bem sei o quanto é especial para ela poder dispor dos pais só para si. Recuando nas memórias do tempo eram 15, os dias de Agosto, em que o meu pai descansava dos fatos-macaco, do telefone a tocar, dos dias a chegar a casa com as mãos cobertas de pó preto dos motores muitas vezes depois de todos termos jantado. Lembro-me de como a minha mãe, nesses dias, esperava por ele atrás dos vidros da janela à espera que a campainha tocasse.

Nas férias, a grande brincadeira com a minha irmã mais velha passava por adivinhar a cor da bandeira da praia para onde iamos, quase sempre vermelha, para treinar os primórdios do body-board numa prancha de esferovite. Com o meu pai, eram as lutas de bolas de areia que acabavam sempre, connosco a ser agarradas pelos calções e atiradas para um mergulho no mar.

E é nestes momentos que sentimos uma nostalgia abissal da infância; quando nos podiamos simplesmente esconder debaixo de uma árvore, fechar a porta do quarto ou fingir que iamos brincar na rua.

Passam os anos e tudo isto cai no esquecimento e confesso que só me lembrei da importância do quanto representava ter o meu pai só para mim, após os consecutivos pedidos de Simone.

Ao fim de 12 anos, entre mortais encarpados e gargalhadas à retaguarda, Simone rapidamente de assumiu como a rainha da casa. A minha rainha de copas.

Confesso que é com o coração cheio e uma dose imensurável de orgulho, que olho o futuro e vejo a pessoa enorme que vais ser. Deem-te asas e um ponto de apoio e é certo que farás o que Arquimedes disse que faria: mover o mundo.

Minha querida Simone, nunca mas nunca tenhas medo de ser pessoa, mas por favor não te esqueças que os teus ombros também são humanos.

Talvez seja cedo demais para perceberes o valor destas palavras, mas quero que saibas que somos o conjunto de várias peças das pessoas que amamos, tocamos e nos relacionamos. A soma de tudo isto é que nos torna alguém único e especial.

Mas porque a vida é aquilo que acontece enquanto se vive, vive tudo como se não houvesse amanhã porque amanhã, podes não ter a mesmas oportunidades. E se num dia mau deres por ti a pensar que "não és nada e nunca serás nada" lembra-te que "moram em ti todos os sonhos do mundo".

Mãe ❤