A Terra é redonda e por muito que os caminhos nos afastem, ou que nós próprios nos afastemos dos caminhos que inicialmente traçámos para nós mesmos, por muito que enveredemos pelo Norte ou pelo Sul, pelo Finito ou pelo Infinito, o tempo encarregar-se-á de aproximar aquilo que a vida separou. Não de uma forma física, porque essa é a sentença irremediável que condena os mortais a vaguear sobre a Terra na eterna procura de respostas a perguntas que não chegaram a existir, mas sob a forma intangível das mudanças que o tempo provoca nas pessoas que não revemos há anos ou nas pessoas que revemos todos os dias.
Percebemos então que vivemos em verdadeira aceleração ao ponto de não termos tempo sequer para matar saudades dos que nos são queridos, de reviver recordações ou de pedir desculpas. E se isto não nos faz parar, se não nos faz meter os pés à parede e pensar que o dia de hoje é o amanhã que ontem nos preocupava e que, acima de tudo, "não, não temos todo o tempo do mundo" então não sei o que o fará.
Só quando finalmente percebermos que há coisas que nos são verdadeiramente importantes e que quando se chega ao limite de cada uma delas, ficamos sós; só quando percebermos que é nesse momento que vamos ficar para sempre e irremediavelmente sós, é que tomamos consciência que estas coisas são temporárias e podem porventura ter um fim. É neste momento que admitimos que um dia havemos de ser supreendidos pela dor que por agora é escusada. Que neste momento, é uma estúpida perda de tempo. Que neste momento, é um sofrer em antecipação.
Há-de chegar o dia em que tudo vai inevitavelmente chegar ao fim e aí sim, vamos precisar de sentir toda a dor que tivermos. Até lá, tudo são meras circuntâncias.