Há coisas que guardamos e reconstruímos em silêncio. Na ditadura do silêncio. Este desejo de silêncio, esta necessidade e esta vontade de uma viagem ao mais íntimo de nós, onde não nos resta sombra do orgulho que teimamos em fingir ter, é a procura de um encontro frente a frente e a sós com nós mesmos.

Há poucos dias, em conversa com uma amiga de sempre, ela dizia-me que "Tout esprit profond a besoin d'un masque". E neste momento percebi este braço de ferro entre o corpo e a alma é um confronto necessário para nos encontrarmos a nós próprios. É neste confronto, que Descartes acreditava acontecer precisamente ali, na raíz do nosso pensamento, que se os Deuses existirem será o mais próximo deles que conseguiremos estar. Será também o mais próximo de nós que nos conseguiremos encontrar para resolver os nossos conflitos interiores que tantas e tantas vezes nos obrigam a procurar conforto ao abrigo de numa máscara que transpareça aos outros uma imagem dos adjectivos que não somos.

A nossa maior perda de tempo nesta vida é nossa teimosia em achar que só seremos bem sucedidos se nos esforçamos e nos empenharmos em querer deixar de pensar naquilo que pensamos ou se deixarmos de sentir aquilo que sentimos. No final de contas, o diabo não vem até nós sob a tradicional forma vermelha, tridente nas mãos e uns indisfarçáveis e flamejantes cornos, mas sim sob a forma daquilo que mais desejamos.

A tristeza e a mágoa são um bem necessário nem que seja porque prolongam o tempo que a vida tem. Caso contrário, esta passaria num ápice.