Mãe... ajuda-me a fazer um trabalho para português onde o herói enfrente desafios e dificuldades. Onde defronte adversários e derrube obstáculos. Onde devo ser eu a decidir se no fim, sairá vencido ou vencedor...

Foi com este discurso que Simone veio ter comigo. Trazia uma folha branca e roía o fim do lápis de carvão, amarelo e preto, mina HB. Tentava assim disfarçar os nervos de ter nas mãos a sorte e o destino de alguém. Talvez tivesse chegado a hora de lhe ensinar que, muitas vezes, os nossos maiores adversários somos nós próprios e os maiores obstáculos que encontramos pelo caminho são quase sempre os que nós próprios erguemos.

E assim nasceu a história de Raimundo, aquele que, apesar de mudo, tinha prometido a si mesmo que o mundo não o iria tratar de forma diferente. Embora todos o chamassem de "Raimudo", o mudo, sempre acreditou que os momentos em que achamos que não vamos conseguir e mesmo assim conseguimos, dependem única e exclusivamente de nós, de uma força interior à qual se dá o nome de determinação. E no fim, depois de um "era uma vez" bastante conturbado, Raimundo - o mudo - "viveu feliz para sempre" ao lado de Vitória, a heroína.

Vitória, Vitória, acabou-se a estória.

Ah... o universo infantil é tão mais fácil de lidar! Ali, onde a imaginação flutua para ensinarmos as crianças que os tenebrosos dragões só existem para poderem ser derrotados e damos por nós a falar em determinação, batendo na eterna tecla do "se te esforçares consegues!".

A parte que omitimos é que o problema de sermos fortes é que não nos deixam nunca ser frágeis. Quando todos olham para nós como pessoas de força, determinadas, que raramente desistem, a frase que se levanta é: "ela aguenta". Como se não fossemos nós seres humanos iguais a todos os outros. Como se nos pudessem atirar bolas de malabarismo umas atrás das outras para as mãos. Como se o nosso coeficiente de elasticidade fosse infinito. E no fim, quando todas as bolas caem ao chão - porque era humanamente impossível mantê-las simultaneamente no ar - todos esperam que tudo permaneça igual, mesmo quando já não é possível.

E é aqui, frágeis a fingir de fortes, que percebemos que há instantes que são para sempre e momentos que marcam o fim do princípio.

E é aqui que nos mentalizamos que a vida é feita de escolhas simples: "Sim ou Não", "Dentro ou Fora", "Ir ou Voltar" e de escolhas realmente importantes: "Amor ou Ódio", "Herói ou Cobarde", "Lutar ou Desistir", "Viver ou Morrer".

E é aqui que percebemos que são as escolhas realmente importantes, sobre as quais muitas vezes não temos qualquer tipo de domínio ou intervenção, que decidem o nosso dia de amanhã por mais determinados que sejamos.

Há dias que conseguimos mudar as coisas.
Há dias, que as coisas nos mudam a nós.